top of page

Seda feita artesanalmente

Compartilho aqui a história da seda produzida artesanalmente pela Associação para o Estudo, Defesa e Promoção do Artesanato de Freixo de Espada à Cinta - Portugal. Para ler a matéria original, clique aqui.

1. A CRIAÇÃO DO BICHO DA SEDA E A FORMAÇÃO DO CASULO

 

Todos os anos são recolhidos das borboletas, que nascem e acasalam, os ovos de que vão nascer as lagartas do ano seguinte.

 

As larvas nascem por volta de Abril e, nessa altura, são depositadas no centro dos tabuleiros onde diariamente são colocadas folhas de amoreira frescas e sem qualquer humidade, para que se alimentem. Demoram cerca de 25 dias até atingirem a idade adulta.

 

Durante estas semanas, todas as condições de humidade e temperatura têm de ser cuidadosamente monitorizadas. Como as lagartas não se desenvolvem todas ao mesmo ritmo, torna-se necessário separá-las por grupos de desenvolvimento para que seja mais fácil detectar a altura em que irão começar a fazer o casulo e também sair do mesmo.

 

Quando a lagarta chega à idade adulta, são colocados em volta dos tabuleiros ramos de arçã para as ajudar a fixarem-se e fazer o casulo. Naturalmente, elas sentem-se atraídas pelos ramos e encontram o seu sítio. Acontece, por vezes, acharem que não têm espaço nos ramos e moverem-se para encontrar outros locais menos convencionais.

 

As lagartas expelem o líquido através das glândulas salivares, que ao ser torcido e ao entrar em contato com o ar, vai produzir a seda que forma o casulo e a protege durante a metamorfose.

 

O período de metamorfose demora cerca de 15 dias, mas a maior parte das borboletas nunca chegará a nascer, pois isso implicaria o rompimento do casulo e do fio contínuo de seda.

 

Produzir seda de 1ªqualidade implica, invariavelmente, matar as borboletas dentro do casulo. Por isso, usar seda, tal como usar couro, é uma decisão que depende da consciência e sensibilidade de cada um.

 

Saber quando matar a borboleta exige uma observação próxima do desenvolvimento da metamorfose. Geralmente, permite-se que algumas das borboletas nasçam como prova de que o processo está finalizado. Se se tentar efetuar a extração da seda cedo demais, o casulo transforma-se numa pasta e não é possível desfiar o fio continuamente.

 

Nesta altura, os ramos de arçã com os casulos são colocados no exterior sob sol intenso por alguns dias, o que irá matar a borboleta por choque térmico e deixar a seda pronta para ser extraída na próxima fase.

2. A EXTRACÇÃO DA SEDA

 

Na fase da extração, uma tina de cobre com água quente é preparada para desenrolar o fio do casulo. A água tem de estar a uma temperatura de cerca de 90º, sendo que estando demasiado fria não libertará a goma que mantém o fio colado e, se ferver, transformará o casulo numa pasta impossível de desfiar.

 

Uma vassourinha feita de carqueja, ao tocar nos casulos, colhe os fios que irão passar pela fieira e ser enrolados no sarilho. Não se desfia apenas um fio de cada vez, mas sim cerca de vinte, o que quer dizer que vinte casulos fazem apenas um magro fio de seda.

4. A SEDA DE SEGUNDA CATEGORIA

 

A adicionar ao processo de produção da seda de primeira categoria, ainda há o da seda de segunda categoria – este é o tipo de seda que não implica a morte da borboleta. Esta é uma seda produzida com os fios retirados da arçã e de casulos perfurados. Como não é possível desfiar continuamente a seda neste caso, o processo de fiação é muito semelhante ao da lã – é lavada, penteada e fiada da mesma forma.

3. ENROLAR, FIAR, DOBAR E LAVAR

 

Depois de tirar a seda do sarilho, logo após a extração, esta é colocada na dobadoura (aparelho que serve para dobar, tirar a seda dos casulos) e começa aqui um processo contínuo de enrolamento, torção e extensão que transformam 300 magros fios de seda num fio branco e acetinado.


A seda de primeira é dobada para 15 pequenos cartões que, por sua vez, vão ser atados juntos e enrolados no rodeleiro (o cilindro de madeira) até ao final. Tem que manter a mão sempre úmida, o que ajuda os fios a unirem-se, enquanto um ajudante controla o fluxo dos fios a partir dos cartões, garantindo que estão sempre esticados e juntos.

 

Retirado o rodeleiro do cubilho (dispositivo onde encaixa o cilindro de madeira para ser rodado), a seda está pronta a fiar – nesta altura, os 15 fios ainda estão enrolados paralelamente. Para obter um fio resistente é preciso torcê-los – quanto mais torcido e esticado for o fio, mais resistente e sedoso será, elevando a sua qualidade.

 

Com o fio contínuo da seda, o fuso balança e gira tão rápido como um pião.

 

Bem esticada, a seda passa do fuso para a aspa, formando as meadas que irão finalmente ser lavadas e branqueadas.

 

As meadas vão a cozer numa caldeira de água a ferver e sabão durante uma hora. Durante a lavagem e antes da secagem, as meadas são extremamente esticadas por várias vezes (são necessárias duas pessoas), para que não se formem nós provenientes da torção, o que iria deixar o fio manchado.

 

Finalmente branqueada e seca, a seda está pronta para ser tecida.

A seda é produzida pelo bicho da seda, ou lagartas da mariposa do bicho da seda. Existem centenas de tipos de bichos da seda, mas o nome cientifico da espécie que produz a seda da mais alta qualidade é Bombyx mori. Para fazer tecidos de seda é necessário um número considerável de lagartas, e isso deu origem à sericultura, ou seja, à criação de bicho da seda.

 

A mariposa fêmea do bicho da seda deposita ate 500 ovos, cada um do tamanho de uma cabeça de alfinete. Depois de aproximadamente 20 dias, os ovos eclodem. As minúsculas lagartas tem um apetite insaciável. Elas comem folhas de amoreira. Em Apenas 18 dias, o tamanho dos bichos da seda é 70 vezes maior do que seu tamanho original e já trocaram de pele 4 vezes.

 

Depois que cresce, o bicho da seda fica transparente, indicando que está na hora de tecer. Quando ficam irrequietos e começam a procurar um lugar para construir seus casulos, estão prontos para ser colocados em armações com vários compartimentos vazados. É nesses compartimentos que eles soltam um fio branco e delicado de seda em torno de si mesmo.

 

Uma incrível transformação ocorre dentro do bicho da seda. Ele digere as folhas de amoreira e as converte em fibroína, um tipo de proteína que fica armazenada num par de glândulas que percorre todo o seu corpo. à medida que a fibroína vai passando pelas glândulas, ela é revestida de uma substancia viscosa chamada sericina. Antes de sair pela fiandeira, localizada na boca da lagarta, a serina faz com que dois filamentos de fibroína grudem um no outro. Após entrar em contacto com o ar, essa seda liquida se solidifica e forma um fio único.

 

Uma vez que a lagarta começa a produzir seda, ela vai até ao fim sem parar. O bicho da seda tece à velocidade de 25 a 40 centímetros por minuto, balançando a cabeça o tempo todo. Calcula-se que, quando o casulo fica pronto, o bicho da seda terá balançado a cabeça umas 150 mil vezes. Após tecer por dois dias de ate 1.500 metros de comprimento. Isso é mais ou menos quatro vezes a altura de um arranha céu!

Em apenas uma semana recolhe-se 120 mil casulos, que serão enviados para ser beneficiados. São necessários cerca de 9 mil casulos para se confeccionar um quimono e uns 140 para uma gravata, e num lenço de seda talvez se utilizem mais de 100 casulos.

 

O processo de desenrolar a seda de casulo para depois enrolá-la numa bobina chama-se bobinagem. Para que os casulos tenham valor de mercado, as pupas dentro deles precisam ser mortas antes de eclodirem. Essa tarefa é realizada por meio de calor. Os casulos defeituosos são removidos e os demais ficam prontos para ser beneficiados. Primeiro, os casulos são colocados em água quente ou no vapor para soltar o filamento. Depois, a ponta do filamento é pega por escovas giratórias. Dependendo da espessura desejada, os filamentos de dois ou mais casulos podem ser combinados de modo a formarem uma trama única. À medida que vai sendo enrolada numa bobina, a trama seca. a seda bruta é enrolada mais uma vez, em uma bobina maior, para formar uma meada de determinado comprimento e peso.

 

Outro processo importante é o de tingimento. A seda pode ser tingida com facilidade. A estrutura da fibroína permite que os corantes penetrem fundo no tecido, resultando em cores mais firmes. Além disso, ao contrario das fibras sintéticas, a seda possui tanto íons positivos quanto negativos; isso significa que praticamente todo corante dá bom resultado. O fio da seda por ser tingido antes de ir para tear ou quando sai dele, em forma de tecido.

Produção da seda

bottom of page